sábado, março 31, 2007

Umas férias inesquecíveis - Parte V


Continuação…

Na manhã seguinte acordámos tarde e esfomeadas. Arranjámo-nos para ir para a praia mas era urgente passarmos em qualquer sítio a fim de nos alimentarmos.
Encontrámos uma esplanada que dava para a praia, com polvos ao sol pendurados em cordas como se fossem roupa (um costume daquela gente porque, dizem, o polvo fica assim mais tenro) onde uma grega de cabelo pintado de loiro e com um ar algo mal disposto se aproximou de nós para anotar os nossos pedidos. Foi quando resolvi inventar. Sinceramente não sei o que me deu para pedir à mulher um café frappé with lemon. With lemon? perguntou a atarantada mulher com uma cara entre o horror e a surpresa. Inocentemente, perguntei-lhe se o café frappé não levava limão e a resposta que obtive foi um contundente não. Claro que percebi que tinha deixado a mulher ainda mais mal disposta e, para evitar que ela tivesse um ataque de nervos, desisti do limão até porque também não estava muito certa se fazia parte da receita ou não.
Enquanto aguardávamos os pedidos, pusemo-nos a observar duas pessoas que nadavam vigorosamente desde uma rocha situada a umas boas centenas de metros da praia. Aquilo é que era nadar em braçadas fortes e ritmadas!
O pequeno-almoço foi-nos servido e atirámo-nos gulosamente a ele.
Conforme os nossos estômagos se iam acalmando fomos olhando à volta e demos com dois loiros muito altos que estavam de costas, em fato de banho. Pelos físicos esbeltos, felinos, completamente depilados e muito molhados, percebemos que deviam ser os dois nadadores que minutos antes tínhamos observado.
Quando os dois se voltaram de frente para nós, reparámos que cada um tinha dois montinhos na zona do peito e nenhum no baixo-ventre. Eram mulheres! Puxa, eram ambas lindíssimas apesar do tipo marcadamente butch. Ficámos deslumbradas a olhar para aquelas duas perfeitas e atléticas amazonas que nos sorriram quando perceberam que estavam a ser admiradas. Sentaram-se a uma mesa onde se encontrava uma morena também bastante butch e com um rosto agradável. Esta morena não tirava os olhos de T e resolveu meter conversa connosco. Era grega, de Tessalónica e as duas loiras eram alemãs.
Apesar da grega ser uma mulher com uma conversa eloquente e bastante interessante, tinha chegado a hora de irmos aproveitar o resto do dia na praia. Despedimo-nos e não tivemos outro remédio senão dirigirmo-nos para a zona dos seres peludos porque a nossa onda era mesmo tomar banho em pelota.
Ao final da tarde, voltámos a casa para nos arranjarmos e irmos jantar.
Depois de jantar, demos um passeio por umas lojas com artesanato mas não havia nada que nos enchesse o olho.
Voltámos para casa a fim de fazermos horas para irmos ter com o grupo de gregas que tínhamos encontrado na noite anterior. Foi então que P decidiu pegar numa garrafa de vodka que entretanto tinha comprado e começou a emborcar a bebida como se fosse água. Aquilo não ia dar bom resultado e tentámos demovê-la, mas fez ouvidos moucos.
Quando saímos de casa ao encontro das gregas, P já estava completamente embriagada e, obviamente, a dizer e a fazer disparates.
Chegámos à praia e vimos um grupo de mulheres sentadas à volta de uma fogueira cantando, em grego e ao som duma viola, canções que pela sua monotonia e forma como eram cantadas seriam do género “Ai tadinha de mim, ela deixou-me por outra e eu aqui tão infeliz e com tanta dor de corno”. Aproximámo-nos e cumprimentámo-las mas não nos ligaram nenhuma. Como não vimos M a amiga de C nem aquela que me impressionara na noite anterior e que tinha um nome começado por V, afastámo-nos um pouco e P, mais bêbada que um peru em véspera de natal, desatou a cantar alto “Menina estás à janela” e nós acompanhámo-la pelo tradicional repertório de canções populares portuguesas. Claro que as gregas começaram a sentir-se incomodadas e olhavam-nos com uma vontade enorme de nos apertar os garganetes.
Como o ambiente azedava e a nós não nos tinham pago para levar com depressões, cavámos dali para fora.
No caminho, P, cuja bebedeira estava ao rubro, mandou parar um grego que se deslocava de mota, montou-se no lugar do pendura e disse-lhe que andasse. O grego ficou feito estúpido mas não teve outro remédio senão arrancar porque P dava-lhe pancadinhas nas costas e berrava “Go, go”. O homem lá foi com ela porque devia saber que não se deve contrariar os bêbados. Ficámos aparvalhadas e sem reacção a ver a miúda a arrancar com o homem que apenas deu uma volta, regressando para onde a apanhara, ou melhor, tinha sido apanhado.
P começou a ficar mal disposta e seguimos rapidamente para casa, não fosse dar-lhe na real gana mandar parar um camião que a levasse para Mitilene.
Chegadas a casa, P, embirrou com o molho de alhos que estava pendurado do tecto e não foi de modas, tunga, desfez os alhos à dona da casa pouco antes de entrar num quase coma alcoólico.
Eu e T recolhemos aos nossos aposentos e quem passou uma noite horrível foram as outras duas. A miúda estava mesmo mal e no estado em que se encontrava a coisa poderia dar mesmo para o torto. As pobres A e C estiveram a dar-lhe com o duche obrigando-a a manter-se acordada a ver se vomitava. Só que P achou que o quarto precisava de uma lavagem e toca de molhar as camas e o quarto todo. Eu e T, sortudas, não assistimos a isto, mas A e C no dia seguinte estavam mais mortas que vivas e puseram-nos a par do que se tinha passado.
P viveu para um dia poder contar aos netos como apanhou a maior bebedeira da sua vida e que teve, como consequência, nunca mais ter tocado ou suportado o cheiro de qualquer bebida alcoólica.
A partir do terceiro dia, a nossa estadia em Eressos passou a ser igual. De manhã pequeno-almoço na esplanada da Mariana (a grega mal disposta) depois praia, casa, jantar, passeio, décima musa e casa de novo.
Contudo, no último dia de praia em Eressos, decidimos que queríamos algo diferente.

Continua…

terça-feira, março 27, 2007

Maria Callas




Ánna María Cecilía Sofía Kalogeropoulou, conhecida internacionalmente como Maria Callas, nasceu em Nova York a 2 de Dezembro de 1923 e desencarnou em Paris a 16 de Setembro de 1977, não tendo chegado a completar os 54 anos.
Filha de emigrantes gregos, devido às dificuldades económicas dos seus pais, teve que regressar à Grécia com a mãe em 1937.
Estudou canto no Conservatório de Atenas com a soprano coloratura Elvira Hidalgo. Um destes dias escreverei sobre os vários tipos de vozes femininas na ópera.
Callas, um soprano dramático-coloratura ou soprano dramático d'agilitá, embora pudesse abordar papéis desde o mezzo-soprano, era senhora de raros dotes vocais e interpretativos, com uma voz de grande alcance.
Esta fabulosa cantora lírica que revolucionou a ópera com as suas interpretações de grande carga dramática, pois tinha a extraordinária habilidade de alterar, na perfeição, a cor da voz com o objectivo de expressar emoções, explorando cada oportunidade de representar no palco as minúcias psicológicas das suas personagens, mostrou que era possível imprimir dramaticidade, mesmo em papéis que exigiam grande virtuosismo vocal por parte da intérprete, o que usualmente significava, entre as grandes divas da época, privilegiar o canto em detrimento da cena. Para Callas, ambas eram igualmente importantes.
Perpetuou-se em papéis como Medea, Norma, Tosca, Violetta, Lucia, Gioconda, Amina, entre outros, continuando, nestes papéis, a não existir nenhuma artista que lhe faça sombra.
Dona de um temperamento forte (sofria de Transtorno de Humor Bipolar) Callas era, por vezes, odiada pelas suas indisposições com maestros, colegas e até com o público.
Elevada à categoria de mito e conhecida mesmo fora do círculo de amantes de ópera, ela criou em torno de si uma legião de fanáticos entusiastas capazes de defender, a todo custo, os méritos da cantora.
Não me considero uma fanática de nada mas sou, sem qualquer dúvida, uma amante de Callas e, para mim, nenhuma cantora lírica se lhe compara.
Quero partilhar convosco 22 das mais belas árias de ópera cantadas por Maria Callas e que estou a ouvir enquanto escrevo este post. Não duvidem que aconselho a audição de todas as árias, no entanto, faço um especial destaque para as 5, 6, 15, 16 e 22.

segunda-feira, março 26, 2007

Terminal CFB


Eu queria continuar a escrever, de seguida, as minhas aventuras com as amigas em Eressos, mas não resisto a fazer uma interrupção para vos chamar a atenção para um blog muito recente (ainda só tem três posts) mas muito bem escrito e interessante. Os textos contam a história de uma menina angolana, adoptada por um português, nos tempos da colonização e do seu amigo Kwadi. Não posso deixar de vos aconselhar vivamente a sua leitura que é deliciosa, havendo da parte de quem escreve, o cuidado de utilizar expressões que eu já havia esquecido e que me recordam a minha meninice na cidade do Lobito. O blog em causa chama-se Terminal CFB (Caminhos de Ferro de Benguela) e é uma pérola. Ora dêem lá um saltinho e deliciem-se com a história de Teresa e de Kwadi.

Umas férias inesquecíveis - Parte IV


continuação

A noite agitada de Eressos que tanto ansiávamos, era, na verdade, muito calminha, para Agosto! Mesmo assim, não nos desmotivámos e lá fomos à procura de um restaurante (não recordo o nome) que tinha uma agradável esplanada, para comer a Moussaka que estava excelente.
Enquanto decorria o repasto, bem olhávamos para a fauna maioritariamente feminina que passava mas não conseguíamos vislumbrar um espécime que valesse uma segunda olhadela. Uma frustração!
Por outro lado, o nosso grupo era alvo de olhares sedutores (se é que se podem chamar assim) e, até, de alguma surpresa. Podem não acreditar, mas não é preciso ser a Angelina Jolie para, naquela terra, ser considerada uma beleza do outro mundo, tal é a falência de beautiful women por ali.
Acabámos o jantar e fomos dar um passeio por uma rua próxima da praia e que parecia ser a mais animada. No entanto, a paisagem era ... ok ... mais do mesmo! Uma decepção!
Quando chegámos ao final dessa rua, demos com um pequeno largo que era utilizado como esplanada de um ou dois cafés. Sentámo-nos e pedimos umas bebidas enquanto decidíamos para onde iríamos, pois não dava para ir pr’a night em Mitilene que ficava a hora e meia de táxi para lá e outra para cá!
Estávamos neste dilema, eis que se aproxima de nós uma mulher com um ar meio esgazeado e estranho, de cabelo pintado de vermelho, curto e muito punk que se apresentou como Maria Cyberdyke (Cyb). A mulher era estranhíssima (não sei se continua a ser) mas muito simpática e, percebia-se porque era um género de public relations da comunidade lésbica da Grécia. Conversámos durante um bocado, ela quis saber se estávamos bem instaladas e ouviu as nossas queixas sobre o local que nos tinha arranjado. Não mostrou qualquer perturbação e sorriu abertamente quando lhe dissemos que já tínhamos acomodações bem melhores e em Eressos. Durante a conversa deixou escapar alguma surpresa por saber que jogávamos todas na mesma equipa que ela, com excepção de P que como já referi andava baralhada mas a quem a Cyb tratou por babydyke.
Depois de C saber, através da Cyb, que M, a amiga grega com quem se queria encontrar, já estava em Eressos, dirigimo-nos para o local onde aquela estava a jantar com o seu grupo.
Quando chegámos a um misto de restaurante e bar, com uma parte coberta e outra ao ar livre, encontrámos, finalmente, um grupo de mulheres giras. Puxa, eu até respirei fundo! É que já começava a ficar com dúvidas relativamente à minha preferência por figos. C dirigiu-se a uma morena, muito bonita, com um rosto perfeito de feições gregas e possuidora de uns olhões lindos de pestanas enormes e espessas que até pareciam falsas. Era M!
No entanto, apesar de na altura ser casada, eu não estava ceguinha e os meus olhos pousaram numa outra morena com um tipo ligeiramente butch, dona de um sorriso espantoso e um ar muito atrevido que se exprimia num inglês elegante e perfeito. Caramba, sempre tive um fraquinho por mulheres interessantes e atrevidas! Não fosse eu ser casada na altura e teria lançado a minha rede àquela beleza andrógina, filha de mãe grega e pai inglês, ou era o contrário? Também não é importante! Senti que ela também me olhou de um modo especial mas percebeu que eu era comprometida porque T (que é uma mulher que vê mesmo aquilo que outros não vêm) marcou a sua posição abraçando-me e olhando-me amorosamente. É por estas e por outras que quando um casal está em crise o melhor é ter férias conjugais!
Estivemos em amena cavaqueira com o grupo de gregas, enquanto eu e a mulher do sorriso que mexia com a libido da mais empedernida nos íamos olhando conforme nos era permitido. Depois de um bocado, as minhas amigas e T resolveram que lhes apetecia ir à procura de um local com música e dança e eu, que estava tão entretida, lá tive que ir com elas! No entanto, antes de sairmos fomos convidadas para, na noite seguinte, nos reunirmos na praia com elas (as gregas) à volta de uma fogueira (uma coisa muito romântica). Mais uma vez lamentei não ter combinado umas férias conjugais.
Voltámos ao tal largo onde um par de horas antes tínhamos encontrado a Cyb e vimos um misto de bar e discoteca (naquela terra haviam muitos mistos) chamado A décima musa.
A música não era má, o espaço era exíguo, mas como a porta de entrada estava aberta, o pessoal podia dançar na rua ao som da música. Com excepção de uma ou outra grega, a frequência nada tinha de especial. A verdade, minha gente, é que já viajei o suficiente para poder afirmar que, de facto, as mulheres portuguesas são muito bonitas e quando não o são têm, pelo menos, um ar lavadinho!
Seriam umas três da manhã quando decidimos recolher a casa para nos entregarmos a Eros e/ou a Morfeu.
continua... e a reportagem fotográfica das Vizinhas também!

segunda-feira, março 19, 2007

Umas férias inesquecíveis - Parte III

continuação
Hoje resolvi não colocar qualquer imagem de meninas nesta terceira parte das férias em Eressos, porque no blog das vossas vizinhas estão lá fotos muito mais giras da terra, gajas e praia, pelo que, vos aconselho a dar lá um pulo.
Tal como eu, as outras quatro meninas ficaram muito felizes por se irem instalar num local a cinco minutos da praia de Eressos.
Fomos buscar a bagagem à espelunca e lá nos dirigimos à casa que nos indicaram. A proprietária, uma grega com um ar desconfiado que nos olhava como se fossemos de outro planeta, entregou-nos as chaves e desatou numa conversa em grego que nos deixou com um ar atónito a fazer que sim com a cabeça sem, no entanto, entendermos patavina do que a mulher dizia. Calculámos que fossem recomendações do tipo “Não quero orgias!” “Nada de drogas ou bebedeiras!” “Não partam nada!”, etc.
Entrámos na casa e deparou-se-nos uma escada em caracol com um molho enorme de alhos pendurados do tecto. Antes de nos dirigirmos aos quartos, acho que todas pensámos: “Aqui há vampiros!” Eu, pelo menos, pensei. Chegadas ao cimo das escadas, haviam um quarto com cama de casal que seria para mim e T e um quarto triplo para A, C e P.
Os quartos eram amplos, arejados, estavam limpos e tinham jogos completos de toalhas, o que nos deixou muito satisfeitas. Largámos as coisas e lá fomos muito frescas e soltas para a praia.
A praia de Eressos tem um estilo algo familiar. Apesar de ser o bastião, por excelência, do turismo lésbico, vão para lá casais com os filhos, os sogros e o resto da família. Portanto, não dá para nos pormos à vontade (leia-se em top less, under less ou completamente less), sob pena de sermos corridas a grande velocidade.
Assim, indagámos qual a zona da praia onde estava o mulherio e depois de nos indicarem que era lá mais para o fundo junto à rocha, pusemo-nos a andar ao longo do areal.
Ao fim de um bom bocado de caminho bem olhávamos mas só víamos ... gajos nus de rabo ao léu. Começámos a comentar entre nós: “É sempre a mesma coisa, vimos para um sítio de gajas e só vemos gajos!”
Já bastante chateadas porque não vislumbrávamos uma única mulher, resolvemos abancar num pedaço de areal que nos parecia simpático apesar de nos sentirmos as únicas mulheres da terra. De repente, eis que um dos gajos se levanta e ... não era que o gajo apesar de ter pelame por tudo quanto era sítio, tinha mamocas e nada de pilinha? Embasbacadas, verificámos que os gajos eram, afinal, gajas! Um horror! Que mulheres tão pavorosas, meus deuses! A sério que me confrontei com a hipótese de mudar a minha orientação sexual. Acho mesmo que se ficasse a viver em Eressos para o resto da vida e a ter apenas a visão daqueles exemplares do sexo feminino virava hetero!
Percebemos, então, porque razão é que éramos olhadas como se fossemos extraterrestres. Na verdade, bastava ser-se bonitinha e com um ar minimamente feminino para destoar no meio daqueles espécimens.
Ok, pensámos, como não há mulheres giras para lavarmos as vistas, toca de gozar a praia. Se bem o pensámos, melhor o fizemos. Pusemo-nos em pelota e atirámo-nos à água.
Atirámo-nos como quem diz, entrámos devagar porque aquela belíssima praia, tem pedras e, para entrarmos na água, só com sapatinhos de borracha ou, então, em bicos dos pés quais improvisadas bailarinas soltando ais e uis porque, mesmo com todo o cuidado, as pedras magoavam os nossos pézinhos somente habituados às suaves areias das praias portuguesas.
Dentro de água, riamos à gargalhada, mergulhávamos, atirávamos água umas às outras, como crianças. Aquele disparate todo deu para soltar o stress que era mais que muito.
C e P encontraram, não sei onde, uma bóia que, se a memória não me falha, tinha a forma de um pato.
Pareciam tolas a brincar com o raio da bóia. P, que em criança tinha ficado traumatizada numa piscina porque se ia afogando, agarrava-se à bóia com unhas e dentes e C, uma excelente nadadora e mergulhadora, tentava convencer P a confiar nela e a largar a bóia. Era um fartote de riso para nós.
Tudo isto se passava sob o olhar atento dos “estranhos seres” que, como tinham pipi e mamocas, eram consideradas mulheres apesar de serem mais feias que várias juntas de bois.
Claro que as cinco portuguesas eram as belezas de Eressos, o que, diga-se em abono da verdade, não era difícil.
Depois da praia, lá fomos até casa para tomarmos um belo duche, vestirmos umas roupas giras e arranjarmo-nos para irmos jantar uma Moussaka e conhecermos a night de Eressos que, não sei porquê, se nos meteu na cabeça que seria agitadíssima.
Os duches dos quartos tinham a particularidade de deitar pouca água mesmo com a torneira colocada na pressão máxima (no blog das vossas vizinhas está lá uma foto que atesta isso mesmo). Claro que fiquei furiosa, mas lá consegui tomar um duche que me soube a pouco.
Mas a agitada noite de Eressos esperava-nos e não havia imponderável que nos tirasse a boa disposição.
Pelas 21h00, saímos de casa, bonitas, perfumadas, bem vestidas, algumas maquilhadas, ou seja, vestidas e arranjadas para arrasar.
continua...

quinta-feira, março 15, 2007

Umas férias inesquecíveis – Parte II



continuação

Parti os óculos e só amanhã é que os novos estão prontos. A minha sorte, é que vejo bem ao longe, apesar de ao perto…bom, o teclado fica um bocado esquisito. Mas, adiante, porque hoje necessito muito de me distrair, espiritualmente falando!

Vou continuar com o relato das férias em Eressos, apesar de não ter o talento da minha amiga Citadina que descreveu maravilhosamente, em duas partes, este último fim-de-semana que passámos na Serra da Estrela, juntamente com os outros 4 membros da Irmandade da Rosa Negra Parte I e Parte II (é preciso dizer que apesar de serem membros, é tudo meninas).

A memória dessas férias em Eressos já se esbate, mas conto com a Citadina (que vou continuar a tratar por C) para me ajudar através dos comentários.

Para além da amiga grega com quem C ia ter e a quem vou chamar M, C conhecia uma outra mulher bastante mediática dentro do mundo lésbico grego e que se ofereceu para nos arranjar transporte do aeroporto de Mitilene até Eressos, assim como, acomodação num bom local pois, apesar de sermos fãs do vá-para-fora-de-qualquer-maneira, gostamos de ficar bem instaladas e recusamos espeluncas. Manias!

Essa grega usava (esperemos que ainda use) o nick de Maria Cyberdyke, a quem passarei a tratar por Cyb.

Ora, aterradas que já estávamos do voo, no minúsculo aeroporto de Mitilene, e carregadas com sacos e malas (íamos por uma semana mas até parecia que nos íamos mudar de vez para Eressos, a P então, levava um malão que arrastava qual bobby convencida que teria imensas oportunidades para vestir e mostrar os robes de nuit e passear as demais roupinhas de marca) ficámos à espera do transporte para Eressos.

Depois de alguma espera, lá apareceu um motorista de táxi com um letreiro que dizia qualquer coisa que, julgo, era grego e nós ficámos gregas a olhar pró homem. A C, mais expedita e experiente em terras helénicas, perguntou: “Eressos?” o homem disse que sim e lá nos metemos no táxi (sinceramente não me lembro se eram um ou dois táxis, mas também não é importante, ou é?)

Eressos fica a 90 km de Mitilene, portanto, em estrada de curva e contracurva tínhamos, no mínimo, uma hora e meia pela frente de viagem.

T, uma workaolic de primeira categoria (que trabalhou que nem louca até quase à entrada no avião, em Lisboa) deixou-se abraçar por mim e encostou a cabeça ao meu peito, entregando-se a Morfeu como se fosse noite. Eu ia morta de sono, mas não dormia nem à cacetada com receio que o grego nos levasse para algum sítio estranho. Delírios de turista desconfiada e sempre atenta!

Não, Lesbos em termos paisagísticos não é nenhuma Sardenha. É igualmente uma ilha grande mas o termo de comparação fica-se por aqui. Tem uns locais pitorescos ali, outros acolá, mas nada para deslumbrar.

Cheias de calor (a temperatura era abrasadora) enjoadas de tanta curva, cansadas e desejando um duche retemperador, lá chegámos a Eressos. No entanto, o motorista encetou uma ronda maluca de pergunta aqui e pergunta ali para saber onde ficava o hotel cujo nome lhe tínhamos dado ainda em Mitilene.

Achei estranho porque, numa terra tão pequena, o raio de um hotel não deve ser coisa difícil de encontrar.

Admiradas, começámos a ver-nos sair de Eressos. Por fim, no meio de nenhures, surgiu o que parecia ser um hotel, sendo que o nome condizia com a indicação que tínhamos.

Indicaram-nos os quartos e a verdade é que íamos morrendo. Os quartos eram um pavor, as casas de banho, outro. Aquela gentinha entregou a cada uma de nós uma toalhinha de rosto que iria servir para nos secarmos depois do duche. Eu, que adoro toalhões enormes, fiquei piursa.

Descobrimos depois que a porcaria da espelunca ficava a 2 km da praia que teríamos que fazer a penantes, ou seja, de cada vez que fossemos à praia ou a Eressos, tínhamos de andar 4 km. Um bom exercício, sem dúvida, mas tenho uma especial preferência por um outro muito mais agradável! Sim, esse mesmo que estão a pensar! Que querem? Gostos não se discutem, ou discutem? Não sei!

Bom, a mostarda começou a subir-me ao nariz e, apesar de cansada, resolvi ir para Eressos à procura de um sítio melhor e…em Eressos, já agora!

Enquanto as outras quatro meninas estavam na praia, com T a dormir (passou os primeiros dois dias a dormir por tudo quanto era canto e até de pé) eu meti cordas aos sapatos e toca de ir perguntar onde ficava o posto de turismo. Lá chegada, percebi, num relance, que quem mandava naquilo era uma mulher que se expressava em inglês e, pelo tipo físico, não era grega. Ela era feia e abrutalhada, mas era a minha salvação e, portanto, dirigi-me a ela com o meu sorriso mais sedutor, coloquei a minha voz de contralto num tom aveludado (técnicas aprendidas no curso de teatro) e a fazer por largar charme pelos poros, fui falar com ela. Bingo! A mulher derreteu-se e deixou de parte o mulherio que lhe expunha os respectivos problemas para se focalizar em mim. Contei-lhe o sucedido, não descurando um certo ar trágico, a drama, e pedi-lhe que me tirasse daquela espelunca e me arranjasse um quarto duplo ou de casal e um triplo, num sítio decente e, acima de tudo, em Eressos.

Ela disse-me que no Hotel Safo, não havia qualquer hipótese por ter a lotação esgotadíssima, mas que arranjaria uma solução para mim. Ao fim de uns 15 minutos, sou informada que havia uma casa particular com dois quartos, de acordo com o que pretendia, em pleno centro de Eressos e a 5 minutos da praia. Abri-me num sorriso e só não lhe espetei com um beijo porque, caramba, a pobrezinha era mesmo um susto, benza-a Deus!

Fui ter com as outras quatro meninas, comuniquei-lhes a boa nova, e lá fomos nós todas contentes buscar as coisas à espelunca para nos mudarmos.

Por hoje chega de distracção espiritual. Não desistam que o melhor está pra vir. Isto é como algumas séries cuja história se vai esticando, esticando...

continua, claro ...

segunda-feira, março 12, 2007

Somos cúmplices


Na passado dia 07 de Março, João Hélio Fernandes, de 6 anos, estava no banco de trás do Corsa de sua mãe, Rosa Cristina Fernandes, junto com a irmã, Aline, de 13 anos, quando a família foi abordada num sinal de trânsito por dois rapazes, na rua João Vicente, zona norte do Rio de Janeiro. Eles ameaçaram com uma arma - depois, concluiu-se que era um brinquedo. Aline deixou o carro, assim como Rosa, que tentou tirar João do cinto para ajudá-lo a sair. No entanto, os assaltantes arrancaram e o menino ficou pendurado do lado de fora, preso ao cinto.
Os bandidos rodaram cerca de sete quilómetros e chegaram a correr em ziguezague para se livrar do corpo do menino. Vários motoristas tentaram alertá-los e pediram que eles parassem o carro, mas os bandidos ignoraram os apelos.
Dez minutos depois de terem levado o Corsa, os rapazes estacionaram o carro na Rua Caiari, em Cascadura, e fugiram a pé.
A criança morreu pendurada.
Este hediondo crime comoveu todo o Brasil a ponto de se estar a debater, de novo, a pena de morte.
Sobre tudo isto, o meu amigo Lúcio Alves de Barros escreveu o texto ”Somos cúmplices” que aqui vou publicar no meu blog. Leiam-no porque vale a pena.
>SOMOS CÚMPLICES
Lúcio Alves de Barros*
Não é por acaso que a morte do pequenino João Hélio Fernandes, 6 anos, tem causado uma ostensiva comoção e indignação de boa parte da sociedade brasileira. Olhos atentos devem estar percebendo a abertura do debate sobre a redução da maioridade penal, outros se abrem ante os holofotes da “necessária” e “obrigatória” pena de morte e, não vários “doutores do direito” novamente se apegam à velha ladainha da impunidade. Ou estão me enganando, pensam que sou burro, ou apostam na sempre deficiente e inoperante memória brasileira.
O fato é que não vai demorar muito para tal acontecimento cair no esquecimento. No Brasil cultivamos a arte de esquecer as mazelas da civilização. Para isso não faltam autoridades “cultas”, argumento acadêmico, pessoas respeitáveis, os “sabem tudo da vez” e várias explicações sobre o famigerado aumento da criminalidade. Penso seriamente que sou esquizofrênico, pois não consigo entender, tampouco engolir goela abaixo tais manifestações de desprezo e desonestidade em todas as esferas da vida.
A humanidade, além de porca, fascista e suja, é hipócrita, conivente e conveniente com os acontecimentos. Vamos ser justos aos fatos: logo, logo, passando os apelos midiáticos da Globo e companhia, a história do menino João Hélio Fernandes vai cair no esquecimento. Pode virar símbolo, mito, razão de viver para algumas pessoas ou mesmo um "novo" movimento social, capitaneado por uma ONG, ávida de dinheiro, da balela da “responsabilidade social”, assessoria, cursos de pós-graduação e representação política no congresso. Esse filme já foi - à guisa de inédito – mostrado pela TV, tal como a morte da professora Gisela no Rio de Janeiro, da pequena garota queimada anos atrás em BH, da funcionária pública, cuja ossada só foi encontrada após anos de procura ou mesmo da morte da atriz global ou do promotor de justiça José Francisco Linz do Rego na capital mineira. Esses são exemplos que, no calor dos acontecimentos, vieram à minha memória e o leitor certamente deve ter outros em mente. Não é necessário estar em um banco de uma universidade ou mesmo das instâncias da estrutura da segurança pública para perceber que, de uma forma ou de outra, somos responsáveis, verdadeiros cúmplices pela morte desse e de tantos garotos e garotas que acreditam - ou sequer tiveram tempo de - nesse país. A cada dia assassinamos um pouco de nós e do outro. O caso, lamentável em todas as situações, revela com acuidade o descaso com o ser humano, a banalidade que se tornou o mal e a fúria incompreensível daqueles que acham saudável ou mesmo lucrativo viver na invisibilidade.
Ao ler ou tomar ciência dos acontecimentos não é possível não sentir e pensar que a morte de uma criança sempre aponta para a farsa de nossa civilização e da 'inexistência' de Deus. Algo está muito errado e, faz tempo que as coisas não andam certo por aqui. Casos de violência, corrupção e criminalidade não devem e não podem cair na banalidade e na crença imbecil de que “tudo é normal”. O que nos separa dos animais é a arte do diálogo, da política, do convencimento, da negociação e responsabilização dos atos. Há muito vemos e somos vítimas da várias tentativas de programas no campo da segurança pública. Pública? Talvez eu tenha sido vítima de uma ação inconsciente, um "ato falho". Não há publicidade nesse país. A elite anda se escondendo em muros, carros blindados, e, os mais “empreendedores” já optaram por helicópteros. Perdemos o espaço público e a “cultura do medo” tornou-se um monstro amigável, possível de ser manipulado de acordo com os ventos políticos e candidatos a autoridades de ocasião. É por isso que não aceito. Não devemos aceitar a morte de uma criança com ou sem brutalidade. Pelo amor de Deus (outro ato falho?): é uma criança. Esqueçamos o automóvel. Estamos passando nesse país pelo mais invisível, e daí sua crueldade, genocídio que já se viu de novas gerações. A elite assiste calada e busca no famigerado conhecimento científico e normativo as explicações. É muita insensibilidade.
Não é lugar para mostrar saídas para a calamidade da segurança pública, o despreparo da polícia, a arrogância das autoridades ou mesmo o sensacionalismo da mídia. Prefiro o fato: a criança faleceu por motivo torpe. Não há outra explicação. Ficarei comovido e agradecido se alguém me disser que a humanidade ainda tem salvação. Não vale ser padre, pastor, mãe de santo, ser médium ou possuir doutorado. Não mais acredito em autoridades que conseguem dormir, com ou sem Deus, mediante a morte de uma ou mais crianças. E nós, brasileiros, uma “turma de malandros", "sem escrúpulos", resultado de uma sociedade autoritária, bruta, suja, machista, racista, cruel e hierarquizada. Ao mesmo tempo em que assistimos à entrevista da deprimida mãe do pequenino José, nos mantemos na mesma tela do Big Brother com o chato do tal do Bial tentando convencer as pessoas que nada aconteceu e que tudo está bem. Mais que isso, que a vida é um conjunto de modelos sem caráter e sem igual fisionomia na sociedade. Logo, o errado somos nós, e não as representações alienantes produzidas em um mundo virtual. Poupe-me dos detalhes dessa vida fútil e sem lugar. Deixemos as máscaras e representações caírem e pensemos bem: “amanhã morre outra”, “antes aquela do que a minha”, “é o fim dos tempos”, “ai meu Deus, onde isso vai parar”. Coisa chata e impossível de deixar de ouvir. Somente ouvir, fique claro.
Todavia, sejamos francos. Somos fracos, incompetentes e vamos esquecer esse momento que mancha, mas não acaba com essa fingida felicidade do brasileiro. Depois do carnaval, aumentemos o muro de nossas casas, coloquemos mais grades e vamos assistir dentro do espaço privado, quiçá sentados em uma privada, homens e mulheres se matarem, seja no trânsito, em casa ou na rua. E torça para que você ou quem esteja morando muito perto não seja a próxima vítima.<
*Bacharel e licenciado em ciências Sociais pela UFJF, mestre em sociologia e doutor em ciências humanas: sociologia e política pela UFMG. Professor e organizador do livro “Polícia em Movimento”. Belo Horizonte: Ed. ASPRA, 2006.
Sinto tão bem o desespero deste meu amigo. Vejo no meu país, este cantinho à beira-mar plantado, a criminalidade aumentar, os crimes serem cada vez mais horrendos e violentos e, nós, cada vez mais indiferentes, ocupados que estamos com as nossas vidinhas, mas medrosos, fechando-nos cada vez mais em casa e pensando: "antes aos outros que a mim!"
Ainda não foi há muito tempo, que era possível passear, à noite, depois de jantar, na baixa de Lisboa vendo montras. Quando passo de carro pela baixa lisboeta, não posso deixar de olhar com amargura para as suas ruas completamente orfãs de peões, apesar das apelativas montras.
No Brasil e noutros países este estado de coisas dura há demasiado tempo fazendo inúmeras vítimas. Em Portugal, caminhamos a passos largos para que o tipo e frequência da criminalidade existente nesses países, aqui se repita. Iremos ficar indiferentes tornando-nos cúmplices como eles? Não estaremos já nesse estado?
Obrigada Lúcio por me teres autorizado publicar neste meu cantinho este teu excelente e tão actual texto. Bem hajas!

quinta-feira, março 08, 2007

8 de Março


A propósito do dia da Mulher, que me deixará muito mais feliz quando deixar de ser comemorado, porque significará que as questões relativas à igualdade deixaram de ser apenas palavras muito bonitas que ficam bem em qualquer discurso político, e, dado estar sem qualquer inspiração para dissertações políticas e sociais, venho aqui chamar-vos a atenção para o imperdível texto da Blue com o título Feliz dia da mulher pá! que me fez dar umas boas gargalhadas.
Um blog também é isto, partilharmos com quem nos lê coisas boas que lemos noutros lugares.
Feliz dia, Queridas Mulheres!

quarta-feira, março 07, 2007

Umas férias inesquecíveis - Parte I


Tal como havia prometido, venho falar de umas férias sui generis que passei em Agosto de 1999 em Skala Eressos, a pequena cidade da ilha grega de Lesbos, onde nasceu a poetisa Safo.
A minha amiga Citadina (que vou passar a tratar por C) num jantar de convívio entre amigas num restaurante de comida brasileira, disse que desejava ir em Agosto a Eressos porque tinha combinado encontrar-se por lá com uma amiga grega e o grupo dela. Não precisou fazer grande esforço para aceitarmos, todas felizes, ir com ela.
A C foi, assim, acompanhada por mim, por T que na altura era a minha mulher (não era namorada, era mesmo mulher, pois vivíamos juntas há anos e só nos faltava o sim na igreja acompanhado de missinha, cantoria, comunhão e muitos ámens) mais A que estava sem namorada (pelo menos oficial) e P que não sabia muito bem o que queria e andava meio baralhada relativamente à sua sexualidade, talvez devido à sua juventude pois tinha apenas 22 aninhos.
Como não há nada de extraordinário a assinalar no que ao meu aspecto físico diz respeito, vou passar de imediato à descrição física das outras quatro mulheres.
C, é uma jovem mulher lindíssima, com tudo no devido sítio, inteligente, culta e divertidíssima.
T, sem qualquer receio de exagerar, é de cair pró lado. Uma morena com uma beleza exótica, muito sedutora, feminina, com um corpo perfeito, enfim, não lhe faltando nenhum predicado, benza-a Deus. Atenção que não digo isto porque foi minha mulher, pois comigo não funciona aquele ditado do “quem feio ama bonito lhe parece”.
A, sem ser uma mulher propriamente bonita, é muito interessante e também com tudo no seu devido lugar.
Finalmente P, a bebé do grupo, é aquilo que se chama uma beleza fora de comum. O raio da miúda (que agora tem 30 anos) é tão bonita, mas tão bonita que é impossível alguém não ficar a olhar para aquela beleza clássica e perfeita em completo encantamento. Uma autêntica Vivien Leigh (a Scarlett O’Hara de “E tudo o vento levou”).
Irão perceber, mais tarde, porque me detive na descrição do aspecto físico das minhas amigas.
Portanto, eram estas cinco amigas com idades compreendidas, na altura, entre os 22 e os 42 anos que se juntaram no Aeroporto da Portela com destino a Milão e depois Atenas para uma semana de férias na ilha grega de Lesbos.
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Já deitávamos aviões e aeroportos pelos cabelos, quando aterrámos em Atenas, uma cidade feia com um tráfego impressionante e um escudo protector cinzento que não nos permite ver a cor do céu, o que a transforma numa das cidades mais poluídas do mundo.
Depois do check-in no hotel, fomos avisadas que o avião para Lesbos sairia no dia seguinte cedo e, portanto, tínhamos de acordar às 05h00 da manhã; uma notícia que, como se calcula, põe qualquer mortal muito bem disposto.
Lá fomos para os dois quartos. Um duplo para o casal constituido por mim e por T e um triplo para a A, C e P.
Como eu e T estávamos a passar uma crise conjugal, depois de largarmos as bagagens no quarto, enfiámo-nos no quarto triplo onde a diversão era garantida.
P, sacou de uma pedra (enorme) de haxixe e toca de desatarmos todas fumar. T, fartou-se de dar passas, desculpando-se que aquilo não lhe fazia nenhum efeito (pois não, não me deixou pregar olho a noite toda obrigando-me, em consequência, a andar no dia seguinte a arrastar-me literalmente com umas olheiras até à boca e um aspecto de boémia que só visto).
Pelas 06h00 da manhã lá nos arrastámos, as cinco, até à sala de refeições do hotel para tomarmos um pequeno almoço, servido por empregados igualmente mais mortos que vivos.
Chegadas, de novo, ao aeroporto, vimo-nos no meio de um autêntico pandemónio pois era uma loucura de gente a querer ir para as várias ilhas gregas. A nossa sorte foi que a maioria ia para as ilhas mais turísticas, como Mykonos e não para Lesbos.
Dentro do avião e já com este de rodas no ar a caminho de Lesbos, P lembra-se que se tinha esquecido do “pedragulho” de haxixe no quarto do hotel, em Atenas. Ficámos tristíssimas porque o produto era bom e serviria para uma boa parte das férias e, só não lhe fizemos (à pedra) o enterro com direito a carpidura, porque nos lembrámos que talvez o hospede seguinte a encontrasse e usufruísse do prazer que ela lhe proporcionaria.
A voz roufenha da hospedeira informa-nos num inglês macarrónico que estamos a chegar ao aeroporto de Mitilene, a principal cidade de Lesbos e que devemos manter-nos sentadas com os nossos seatbelts fasten.
Pela janela vejo Lesbos, a terceira maior ilha grega (a maior é Creta e a segunda maior é Rhodes).
Olhando Lesbos lá do alto, não consegui deixar de sentir um tremor de emoção e prazer, acompanhados por um sorriso, por estar prestes a aterrar na ilha da grande Safo, essa extraordinária e misteriosa mulher e poetisa, pioneira na expressão literária do desejo homossexual feminino, cuja obra, foi destruída quase na sua totalidade apenas restando alguns excertos, pelos homens que, desde há demasiado tempo, têm comandado este mundo.

(continua)

domingo, março 04, 2007

O ano chinês do Porco e a mudança




O Ano do Cão já lá vai e os chineses deram, no passado dia 18 de Fevereiro, as boas-vindas ao ano 4705 do Porco ou Javali.
A história do Zodíaco Chinês é antiga. Conta-se que antes de Buda partir da Terra para o Nirvana, chamou todos os animais para uma despedida. Apenas 12 compareceram. Como homenagem, ele resolveu nomear cada ano com o nome de cada um deles, por ordem de chegada. A ordem foi a seguinte: Rato, Boi ou Búfalo, Tigre, Coelho, Dragão, Cobra ou Serpente, Cavalo, Cabra, Macaco, Galo, Cão e Porco ou Javali.
Esta é a história mais contada sobre a origem do horóscopo chinês, que ao contrário do horóscopo ocidental, não leva em consideração o dia, o mês e a hora, mas sim, o ano do nascimento. Porém, este ano ainda é considerado mais importante, devido à combinação do signo do porco com o elemento regente fogo, considerado um dos mais poderosos.
Os chineses calculam os dias do ano a partir das fases da Lua e também das rotações do Sol ao redor da Terra. Por isso, o Ano Novo chinês não tem uma data fixa de comemoração.
Um aspecto a ser destacado neste ano do Porco é o favorecimento dos valores ligados à família e ao lar pois o novo ano lunar chinês tem como pilares a família e a comida.
Com o Porco chega a prosperidade, a expansão, o prazer, o movimento e a generosidade. Será um período de mudanças no poder que favorecerá os mais necessitados. Pessoas que ocuparam o poder durante algum tempo irão ceder a vez a outros. O Porco trás alterações aos paradigmas políticos e sociais.
O novo ano deve ultrapassar as expectativas já que segundo o zodíaco chinês este é um ano auspicioso, o do "Porco Dourado" que só acontece em cada 60 anos.
Ora, no meio desta conversa toda, a parte mais interessante é a que refere "O Porco trás alterações aos paradigmas políticos e sociais."
Nem de propósito, a noite dos óscares do passado dia 26 de Fevereiro auspiciou o que poderá ser este ano do Porco Dourado relativamente aos tais paradigmas políticos e sociais no país mais poderoso do mundo.
Ellen DeGeneres, a actriz que em 1997 assumiu publicamente a sua homossexualidade, foi convidada para apresentar a noite dos óscares e aproveitou para chamar a atenção, perante um bilião de alminhas, para os preconceitos existentes na sociedade actual com base em orientação sexual diversa da heterossexualidade, no racismo e xenofobia. Chamou também a atenção para as questões do ambiente, numa apresentação que primou pela graça sem cair no mau gosto, pela descrição e sobriedade.
A cantora e compositora Melissa Ethridge, igualmente lésbica, ganhou o óscar da melhor canção original com o título "I need to wake up" ínsita no documentário "Uma verdade inconveniente". Quando ouviu que tinha sido premiada, Melissa beijou a mulher, a actriz Tammy Lynn Michaels, na boca antes de subir ao palco e dedicou-lhe o prémio e aos quatro filhos de ambas.
O óscar de melhor actor principal foi para o actor negro Forest Witaker pela sua interpretação no filme "O Último Rei da Escócia".
Por último, o óscar para melhor documentário foi para "Uma verdade inconveniente" que nos mostra a visão apaixonada e inspiradora da cruzada de um homem para parar o progresso mortal do aquecimento global, esclarecendo todas as ideias erradas que se encontram associadas a este problema. Este homem, é o antigo vice-presidente dos EUA, Al Gore.
Num país como os EUA que é o maior poluidor do mundo e que hipocritamente nunca aceitou ratificar o Protocolo de Quioto, tudo isto é um bom sinal, mesmo para os mais cépticos.
Portanto, pegando num texto da Citadina, The Times They Are (Really) A Changin.