segunda-feira, maio 28, 2007

São rosas ... senhores!


Há uns dias fui tomar café com um amigo a uma pastelaria perto do meu local de trabalho. Estávamos naquela cavaqueira de quem já sabe tudo ou quase sobre o outro e, na falta de novidades, opta pela conversa de circunstância ou pelo silêncio.
Ao fim de uns minutos, entra na pastelaria uma mulher de fazer parar o trânsito.
A pastelaria quase paralisou, tudo o que mexia ficou boquiaberto a olhar para aquela deusa. Acho que até os pombos que cá fora inchavam o peito, fazendo-se maiores e rodopiando à volta das pombas na constante tentativa de acasalarem, ficaram por momentos a desejarem pertencer à espécie humana.
Para além de lindíssima, tinha um rosto perfeito e um corpo que parecia ter sido cinzelado por um escultor, possuía algumas características que sempre apreciei numa mulher mesmo quando não é bonita, ela deitava por todos os poros classe, charme e sedução. Estaria na faixa etária entre os 35 e os 40 anos.
Eu e o meu amigo estávamos sentados na mesa próxima do local, ao balcão, onde ela se encontrava de pé. Nenhum de nós se preocupou em ser discreto e deixou-se ficar a olhar para aquela Afrodite.
Sentindo-se observada, ela olhou na nossa direcção com um sorriso que parecia dizer: "Compreendo-vos tão bem, porque sei como sou bela e desejável!" No entanto, sem qualquer arrogância, pelo contrário, o seu olhar, sendo sedutor, era macio e doce.
Ela acabou de tomar o seu café e saiu para grande pena nossa. O meu amigo, levantando a sobrancelha esquerda disparou:
- Este tipo de mulheres causam-me azia!
- Mas tu ensandeceste, homem? Como pode um gajo heterossexual convicto e militante dizer que uma mulher tão deslumbrante lhe dá azia? retorqui-lhe eu.
- Tu não compreendes! respondeu-me com aquele irritante ar paternalista que os homens adoram ter com as mulheres, mesmo quando estas são, como eu, lésbicas, feministas e, portanto, transgressoras.
- Porque não experimentas explicar-me? Eu sei que às vezes sou lerda, mas tenta! disse-lhe começando a sentir uma ligeira irritação chegar-me à pituitária.
- Não vês que o comum dos homens não consegue chegar àquilo? Portanto, gajas destas deviam ser proibidas de sair à rua ou então sair de burka vestida! A azia que sinto é provocada pela noção de impossibilidade de comer uma gaja daquelas! explicou-se ele.
- Não estás a falar a sério, pois não? perguntei-lhe.
- Estou a falar mesmo muito a sério! Estas gajas mostram-nos como somos vulgares e nós homens não gostamos disso! disse com o ar mais sério que lhe conheço.
Fiquei possessa mas consegui controlar-me com alguma dificuldade. Aquele indivíduo pode ser meu amigo, mas estava armado em parvo e eu tinha que lhe dar um arraso o que, aliás, não seria a primeira vez; deve ser por isso que continua a ser meu amigo.
- Mas que grande sacana me saíste! - Vociferei. - Então, lá porque a maioria dos homens não é capaz (acentuei a palavra 'capaz' propositadamente) de seduzir uma mulher assim, ela tinha de ser proibida de sair à rua, ou andar de burka, para que vocês não se confrontassem com as vossas limitações no que à arte de seduzir certas mulheres diz respeito? Mas quem te julgas tu? O centro do universo? Vai-te tratar, homem, que já morreste e ainda não sabes!
O meu amigo engoliu em seco e olhou-me como se não tivesse compreendido a razão porque eu estava tão furiosa e, isso, ainda foi o que mais me irritou, a sua completa falta de noção do real significado do que acabara de dizer como se, o que disse, fosse a coisa mais natural do mundo.
Quando é que as mulheres começam a educar os homens de modo a ensiná-los, de uma vez por todas, que o universo não gira à volta deles?

terça-feira, maio 22, 2007

Espermatozóide feminino? - A Ciência e a Igreja






Aqui está um tema bem quente e polémico.

O cientista iraniano Karim Nayernia anunciou ter obtido espermatozóides sintéticos a partir de células-tronco de homens. Não satisfeito, Karim quer agora usar células de mulheres para o fabrico de espermatozóides sintéticos femininos e, para tal, já solicitou autorização ao conselho de ética para o fazer.


Se tal vier a acontecer, um casal de lésbicas poderá vir a fazer sexo também com fins reprodutivos. As duas serão mães biológicas dos seus bebés que terão o mesmo código genético de ambas as progenitoras. Como as mulheres não possuem cromossoma Y, só poderão fazer bebés do sexo feminino.


A propósito desta notícia e aproveitando a recente visita do Papa Bento XVI ao Brasil, a escritora e compositora brasileira Vange Leonel na sua coluna do Mix Brasil escreveu que de acordo com esta descoberta, a Terra poderá vir a ser povoada por milhões de filhas de lésbicas, podendo uma delas até vir a ser Papisa e que, nessa altura, o Vaticano não terá outro remédio senão dizer que o sexo entre lésbicas com fins reprodutivos é abençoado por Deus.


Ora leiam lá o texto todo que sendo sério, não deixa de ter o seu lado humorístico.


quinta-feira, maio 17, 2007

Dia Internacional Contra a Homofobia


O francês Louis-Georges Tin, autor do Dictionnaire de l'Homophobie (PUF-2003) escolheu o dia 17 de Maio como o dia internacional da luta contra a homofobia porque, este dia, marca a decisão por parte da Organização Mundial da Saúde (O.M.S.) em retirar da sua lista de doenças mentais, a homossexualidade. Esta decisão da O.M.S. aconteceu há precisamente 17 anos.
No Portugal Gay podem consultar as várias actividades programadas para este dia.
A homossexualidade não é uma doença. A homofobia é que é uma doença.
Em Portugal, os homossexuais não são cidadãos de pleno direito. No entanto, há países onde a homossexualidade é considerada crime e outros, ainda, onde a condenação por homossexualidade é a pena de morte.
ABAIXO A HOMOFOBIA!

terça-feira, maio 15, 2007

Lesboa Party IV - Comentários ao balanço

A organização Entre Vírgulas, no seu blog, faz um balanço da 4ª edição da Lesboa Party. Depois da leitura do que é dito, fiquei sem qualquer vontade de fazer comentários mas, pensando bem, não me posso calar, sob pena de pactuar com certas coisas com as quais não concordo em absoluto.

Assim, vou passar a fazer copy paste das partes que considero merecerem o meu reparo e que colocarei a bold e itálico, a que se seguirá o meu comentário.

“O formato da Lesboa Party, desde a sua génese, não apresenta uma “residência fixa” para a realização da festa. Esta ocorrerá nos locais mais diversificados e até imprevistos (desde uma instalação fabril abandonada a um castelo).”

Muito bem, então porque lhe chamam LESBOA? Que eu saiba, o Pragal não é em Lisboa! E as tais revistas estrangeiras de que a organização tanto se orgulha e que disso nos tem dado nota no blog, ligam o nome Lesboa à cidade de Lisboa e à palavra lésbica. Ora vejam lá o que diz a revista francesa Têtue.

“O blog da Lesboa Party sempre foi um espaço de divulgação e partilha, aberto a todo e qualquer tipo de manifestações construtivas.Não admitimos, porém, o atropelo a um direito básico como é o do respeito pelo bom nome de pessoas (singulares ou colectivas), sobretudo quando quem desrespeita o faz de uma forma gratuita, usando várias identidades, um mesmo IP.
A partir da 3ª edição, vimo-nos obrigados a cancelar a opção de comentários anónimos a fim de evitar mensagens desagradáveis e maldosas feitas por nicks diferentes, mas provenientes de um mesmo IP, cujo objectivo era ridicularizar e pôr em causa o bom nome e a honra de público, artistas e pessoas envolvidos na Lesboa Party.
Após a última edição, voltaram a surgir comentários, de teor nitidamente ofensivo, agora assinados por usuários registados no Blogger (mas sem blogues activos), que levaram a Organização a decidir pela anulação do sistema de comentários, penalizando assim aqueles que, de boa fé, utilizavam este espaço para expressar as suas opiniões.”

Primeiro, eu, Duca, encontro-me registada na blogosfera através deste blog, não utilizo mensagens anónimas e nunca desrespeitei o direito básico ao bom nome de ninguém. Sinceramente, isto parece-me mais uma desculpa esfarrapada e de mau pagador, até porque, como responsáveis pelo blog, cabe-lhes o direito de apagarem os comentários insultuosos ou ofensivos deixando ficar os outros.

Segundo, começam por dizer que cancelaram a opção comentários a partir da 3ª edição e depois referem que nesta última edição (a 4ª) surgiram comentários ofensivos. Pergunto, em que ficamos? O meu comentário e os das Vossas Vizinhas, perfeitamente identificados e com os respectivos blogs activos, foram ofensivos ou foram no sentido de darem uma nota muito negativa, o que iria contrariar a “nota positiva e de destaque” da organização?

“A 4ª edição da Lesboa Party, realizada no Sábado, dia 5 de Maio de 2007, levou até ao Armazém C2, junto às Docas, em Lisboa, cerca de 1.600 pessoas.”

O quê? 1.600 pessoas? Essa contagem não foi inflacionada nem nada? É verdade que só lá estive até às 02h30 da manhã e, a essa hora, aquilo não tinha mais de 800 pessoas, contudo, falando com gente que lá esteve até quase final, a informação que retive é que não estiveram na festa mais de 1.000 alminhas. Adiante...

“Tendo em conta o “deserto” de iniciativas, festas e espaços abertos à diversidade, o facto da Lesboa Party existir e se manter de pé é por si mesmo digno de registo, merecendo mesmo ser nota positiva e de destaque, aqui registada.”

O deserto de que fala a organização está a tornar-se, aos poucos, num jardim, mas mesmo que assim não fosse, isso não lhes dá o direito de tratarem a comunidade LGBT como pessoas de segunda e, ainda, fazerem comentários como este “É pena que aquilo que o público espera encontrar numa festa, com o formato da Lesboa Party, nem sempre corresponda às expectativas, cada vez mais altas e legítimas” onde se vislumbra uma indisfarçável crítica por sermos exigentes. Para além disso, quem altera o formato da Lesboa Party e cria as expectativas é a própria organização e para que se comprove isso, basta uma breve leitura do blog.

Enfim, resta-me esperar que a festa do dia 30/06 no Pragal (?) seja um grande sucesso, não tanto pela organização Entre Vírgulas mas pelas pessoas que lá vão. Eu, pela primeira vez, não vou pois entre o Pragal e Madrid prefiro esta última.

domingo, maio 13, 2007

Descobrindo a homossexualidade dos filhos


A professora universitária reformada, Edith Modesto, descobriu há uns anos que um dos seus filhos era homossexual.
Nesta entrevista, esta mãe brasileira, fala-nos do que sentiu e como reagiu, quando confrontada com uma realidade para a qual não estava preparada, a homossexualidade do seu filho.
Conta-nos, também, a razão porque fundou o primeiro grupo de pais e mães de homossexuais do Brasil.
A entrevista tem a duração de 16:35 com intervalos. Aconselho o seu visionamento.
Para os pais e mães de homossexuais portugueses, neste link do Portugal Gay poderão obter informações que os podem ajudar.

terça-feira, maio 08, 2007

Lesboa Party IV - Rescaldo de um fiasco

Começo já por dizer que esta foi a pior Lesboa de todas. E vou explicar porquê.

A organização Entre Vírgulas, responsável pela Lesboa Party, anunciou no seu blog que as portas do armazém C2 abririam às 23h30. Quando cheguei eram 00h15 e ainda não se podia entrar no local, apesar da fila de gente que se encontrava na rua ao frio.

Quando entrei, vi um armazém decorado e iluminado com uma pobreza que confrangia e extremo mau gosto.

Tendo em conta que as três anteriores edições foram realizadas em espaços magníficos, não se percebe a falta de empenho da organização desta vez. Não basta um espaço onde caiba muita gente e meia dúzia de aparelhagens.

Por volta das 00h30, entraram no palco a EZGIRL e a respectiva irmã que, em vez de actuarem, começaram a pôr música quais improvisadas DJ’s de terceira categoria. O pessoal que se apinhava junto ao palco estava expectante e o raio das americanas só berravam para que o pessoal dançasse. O pessoal nem dançava, nem arredava pé, continuando a olhar para aquelas duas mulheres sem perceberem muito bem o que se passava e, talvez, aguardando a vinda de D. Sebastião numa manhã de nevoeiro que lhes trouxesse a tão aguardada e publicitada performance.

Apesar de a organização já ir na quarta Lesboa, não há meio de acertarem com o som. Ainda não perceberam que quando se procura um espaço para uma festa, se deve testar a acústica do mesmo, ou então, procurar através de técnicas de sonoplastia um som audível sem que nos ensurdeça.

O piso era tão irregular que quem se atrevesse a dançar, principalmente as mulheres que usassem salto alto, corriam o risco de sofrer entorses.

As oito cabines de WC, colocadas fora do armazém, obrigavam as pessoas a estarem à espera, ao frio, para depois terem a grata surpresa de as encontrarem sem iluminação, sem papel higiénico e sem qualquer lavatório.

Pela primeira vez numa Lesboa, havia dentro do recinto da festa um carrinho que vendia cachorros e cachorrões. Pois … vou ao WC, não lavo as mãos depois de o utilizar porque não tenho onde e a seguir dá-me a fome e vou comer um cachorro … está bem!

Pelas 02h30, com vontade de fuzilar as duas americanas que não se iam embora nem à cacetada e que continuavam a pôr músicas pavorosas, pisquei-me.

Ora, tudo isto por 15 € contra os 10 € das edições anteriores, a troco de entrada e de uma bebida que, no meu caso, foi um whisky mal servido, cheio de gelo e água.

Portanto, os 5 € a mais em cada bilhete serviram para pagar às americanas que foram de uma mediocridade gritante. Isto custa, caramba!

Lesboa Party IV, um verdadeiro fiasco.

Sugestões para a organização:

Se querem manter o preço dos bilhetes a 15€ façam para que a festa o mereça. Aumentar 50% o valor de uma entrada com direito a uma bebida para se piorar a qualidade e, tentar maquilhar tudo isto, publicitando no blog referências à Lesboa encontradas em vários órgãos de informação portugueses, franceses e ingleses, para que quem vos lê crie expectativas, que só o aumento do preço criaria, e gorá-las de uma forma quase insultuosa, é pouco profissional e desrespeitador.

Procurem um espaço com boas condições de acústica, piso regular, com casas de banho com iluminação, papel higiénico e lavatório.

Cuidem a decoração e iluminação que, mesmo minimalista, pode ser com bom gosto.

Contratem a prata da casa porque temos cá gente de grande qualidade. Fica-vos mais barato e a nós também.

Não tratem a comunidade LGBT como se fossem pessoas de segunda categoria e que ficam felizes com qualquer porcaria que se lhe ponha à frente, sob pena de nas próximas edições da Lesboa, apenas aparecerem meia dúzia de adolescentes histéricas(os) porque o restante pessoal se pirou para outros locais, como Madrid, onde eu me arrependi de não ter ido este fim de semana ao festival lésbico Nosotras Somos Todas.

Por fim, mais duas sugestões bastante importantes:

- Não censurem os comentários negativos mas não insultuosos feitos à festa no vosso blog, apagando-os e não os permitindo. Foi o que fizeram ao meu comentário e ao de cada uma de duas amigas minhas, As Vossas Vizinhas. Essa, é uma atitude arrogante de quem julga que sabe tudo e que não precisa ler ou ouvir críticas. É através da crítica que podemos aprender e melhorar.

- Ouvi dizer que a próxima Lesboa é no Pragal! Espero bem que isto não seja verdade, porque para além de desvirtuarem o nome da festa, Lesboa, muita gente não vai lá pôr os pés e é o começo do fim desta vossa iniciativa. O velhinho ditado "cria fama e deita-te a dormir" bem demonstrativo de uma certa maneira de estar muito portuguesa durante anos, nos tempos que correm, já não funciona porque a concorrência é feroz e a informação do que se passa lá fora chega a todas as pessoas.

Desçam à terra e deixem-se de deslumbramentos porque vocês ainda são uns aprendizes e, por favor, respeitem aquelas(es) que vos têm dado dinheiro a ganhar.

quinta-feira, maio 03, 2007

Homossexualidade e Identidade de Género

Porque este blog também pretende ser didáctico, sempre que encontro textos, imagens ou vídeos que possam ajudar à visibilidade da comunidade LGBT, ou que possam colocar o dedo na ferida relativamente a situações de preconceito e/ou discriminação, ajudando-nos a reflectir, não hesito em fazer aqui uma chamada de atenção.

Tive acesso a um documento da rede ex-aequo que responde a várias questões sobre homossexualidade e identidade de género.

O documento está muito bom e aconselho vivamente a sua leitura, pois desmistifica ideias preconcebidas e erradas que continuam a existir na cabeça de muita gente.

O documento está dividido em quatro tópicos sendo estes:

1- Questões sobre Orientação Sexual
2- Dúvidas e Mitos sobre Homossexualidade
3- Os Homossexuais e o seu Quotidiano
4- Questões sobre Identidade de Género

Mesmo que julguem saber todas as respostas a estas questões, não deixem de arranjar um pouco de tempo para o ler, pois há sempre coisas que não sabemos.
Para acederem ao link do documento, basta clicarem no título do post.