Para muitos crentes,
este homem foi salvo por Deus, ao fim de quase um mês entre escombros, porque o pai supremo decidiu que não tinha chegado a vez dele.
Também para muitos crentes, Deus é a entidade que criou todo o Universo e até outros que venham a surgir.
Se isto fosse vontade de Deus que, segundo os cristãos é infinitamente bom, para "salvar" alguns “mataria” 200.000? Porque não salvar todos, já agora?
É mesmo infinitamente bom, este Deus demasiado exigente com os seus “filhos”, que quando se portam mal, não fazem o que ele quer e procedem em desacordo com os seus mandamentos, os destrói e condena ao fogo eterno?
Quer dizer, se a grande maioria de nós que, segundo as várias igrejas e/ou religiões, somos simples humanos, conseguimos perdoar aos nossos filhos as maiores atrocidades que eles possam cometer, um espírito superior, infinitamente bom, é capaz de condenar os seus “filhos” ao fogo eterno sem que estes precisem ter cometido nenhuma atrocidade bastando, para tal, que cometam os pecados da “gula”, da “preguiça” ou da “luxúria”.
Sendo estes três pecados gravíssimos porque pertencem ao rol dos 7 pecados mortais, eles são, sobretudo saborosíssimos!
Ora, a ser assim, este Deus só pode ser um ditador da pior espécie e um grande sádico. Não há dúvida que o Saramago tem toda a razão!
Este Deus que, segundo alguns, tudo criou, tudo controla e tudo destrói quando lhe dá na real gana, mete-nos à frente das "fuças" o paraíso tropical, o bolo de chocolate e outros prazeres, como o sexo e, esfregando as mãos de contente (imaginação minha) nos exige que permaneçamos num
open space com ar condicionado e cheio de gente uma porrada de horas por dia porque o trabalho é que
induca*; quer que comamos frugalmente umas coisitas, e temos muita sorte porque os pobrezinhos nem isso têm; mesmo podendo ter um carro topo de gama e uma vivenda no Restelo ou na linha do Estoril, ele decidiu que devemos contentar-nos com o carrito utilitário e o apartamento na periferia; e, ainda por cima, obriga-nos a fazer sexo só para procriar, não é um gajo do mais sacana possível?
Mas, é neste Deus atemorizador, louco, sádico, que não perdoa e com muito mau feitio que muitos crentes – sem sequer questionarem – acreditam!
E mais, acreditam que no Universo há privilégios e escolhidos por Deus e, que, a todos é de igual modo exigível que sejam bons, maravilhosos e fantásticos de modo a atingirem, numa vida que em média é de 75 anos, a meta da perfeiçao e, em consequência, da ida para o céu!
Como se pode exigir a todos o mesmo objectivo, se à partida as chances não são as mesmas quando, por exemplo, uns nascem bonitos, ricos e saudáveis e outros feios, pobres e doentes e/ou deficientes?
Normalmente atribui-se aos cristãos a frase
“Deus está dentro de nós!”. Ora, aqui está algo com que estou de acordo! Contudo, não sei se a interpretação que faço desta frase é a mesma que a dos cristãos em geral. Acho mesmo que muita gente tem medo do verdadeiro significado desta frase.
Se Deus está dentro de nós, isso quer dizer que Deus não é uma entidade abstracta que se encontra “do lado de fora”!
Então, se Deus não está fora de nós e, sim, dentro de nós, concluímos que somos divinos, ou melhor, cada um de nós é Deus!
Muitos cristãos ficam chocados quando ouvem isto e eu não entendo porquê, pois, segundo o Salmo de Davi 82.6 o Mestre de Nazaré disse:
"Vós sois deuses!". E, mais, segundo João 12;12 Jesus acrescentou, referindo-se aos milagres que lhe atribuíam:
“Em verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que faço, e as fará maiores do que estas.” que traduzindo livremente para
modernês** é algo assim: "Eu sou Deus como vós sois, portanto, somos irmãos. Então, acreditar em mim é acreditar em vós. Ora, se eu faço isto tudo agora, daqui a 2000 anos, meus amados irmãos, se acreditarem na vossa divindade, vão fazer muito mais,
capice?"
Jesus também terá dito:
"Vocês devem converter os vossos corações” que de novo em
modernês significa algo assim: “Mudem os vossos padrões de vida e crença, baseados apenas no pensamento e no raciocínio! Sintam e oiçam os vossos corações e permitam a sua expressão no vosso dia a dia! Garanto-vos que serão mais felizes. Mandem, pelo menos de vez em quando, o estupor da mente para as calendas!”. Em vez do
"Penso, logo Existo!" porque não tentam antes o
"Sinto, logo Sou!"?
Colocadas as coisas desta forma, julgo poder aceitar que este homem saiu dos escombros desnutrido, desidratado, mas vivo, ao fim de quase um mês, obviamente, desafiando toda a lógica da ciência tradicional (felizmente há ciência credível que se debruça em mais do que lógica) apenas porque o desejou com todo o seu coração e o Deus que nele reside – e não aquele que destila ódio – fez o resto!
Cada vez mais me convenço de que somos mesmo espíritos tendo uma experiência humana e não humanos tendo uma experiência espiritual!
Namasté!